terça-feira, 9 de abril de 2013

A chegada de Margareth Tatcher no Inferno

Logo após a morte da Dama de Ferro, que foi musa de muitos pesadelos meus, na época que ela perseguia mineiros, sindicalistas, socialistas, ativistas gays, militantes pela independência da Irlanda, lutadores contra o apartheid, acabei por sonhar mais uma vez com ela. E o sonho foi realmente de assustar. Sonhei que Margareth Tatcher chegava ao inferno, o sonho foi assim.
Na chegada da ex primeira sinistra, quero dizer, ministra Britânica ao inferno, soaram tambores (bem, se no céu soam trombetas, creio que no inferno devem soar tambores) e foi estendido o tapete vermelho. Satã em pessoa veio receber Tatcher, afinal, desde a morte de Pinochet o inferno não recebia visita tão ilustre. A diva dos direitos mínimos, que tachou Mandela de terrorista, apoiou o apartheid e condecorou Pinochet, teve recepção de gala.
Logo após, Tatcher realizou seu grande sonho no inferno, casou-se com seu latin lover platônic, Augusto Pinochet, numa ceremônia realizada por Lúcifer em pessoa. Na primeira fila estavam Mussolini, Hitler, Bush pai e Reagan; havia alguns ilustres tupiniquins, afinal o Brasil também teve seus destaques que mereceram estar na cerimônia: Lacerda, Golbery, Médici, ACM e Serjão, o mago da privataria tucana. Lua-de-mel não houve, afinal, Tatcher é uma vitoriana que defende o sexo para fins apenas de procriação.
Após as bodas a dama-do-inferno, quero dizer, de ferro, foi nomeada pelo próprio capeta para primeira ministro infernal. Cortou a folga dominical dos trabalhadores das caldeiras do inferno e também dos carrascos, junto a isto, proibiu qualquer reunião de ato público, a música, o riso, a alegria, as associações, os sindicatos e as reuniões de mais de duas pessoas. Também reservou um lugar segregado no inferno para os gays e para os rebeldes, que passaram a receber castigos maiores.
Criou um imposto sobre as torturas pago pelos próprios torturados, com trabalhos gratuitos para as grandes corporações do inferno; que foram aliviadas de todos os impostos; privatizou e terceirizou o serviço dos carrascos, de maneira que os diabos de lúcifer foram reduzidos a trabalhores semi-escravo sem folga.
Quando estes tentavam reclamar, ela buscava diabos ainda mais pobres e pagando 0,03 de dólar por hora exportava a tortura para as remotas Indonésias do inferno. Assim, no inferno neo-liberal, os torturados pagam para sofrer e os carrascos trabalham quase de graça e tem de ainda pagar por quaisquer danos aos instrumentos de torturas como chicotes, tridentes e forquilhas, assim, em lugar de receber algum dinheiro, os carrascos do inferno estavam sempre devendo ás grandes companhias favorecidas por Tatcher. Também aboliu a educação e a saúde pública. O inferno parecia cada vez mais com a Inglaterra e os EUA criados por Tatcher e Reagan.
Houve a primeira tentativa de greve no inferno, reprimida de forma violenta por um exército infernal criado por ela, que batia, reprimia, prendia, exilava. Para a greve, o remédio era um só, pancada e o rótulo de terrorista, repetido ad nauseam pela mídia do inferno. No inferno, com Tatcher, nenhuma forma de rebeldia era aceita.
Para dar um ar de respeitabilidade, criou o título de sir no inferno, o primeiro condecorado foi o próprio Satã, depois Pinochet, Hitler e a própria Tatcher receberam a condecoração de nobreza. Por fim, proibiu os bacanais, proibiu o sexo no inferno, afinal, sexo só para procriação, como não havia procriação no inferno, o sexo foi simplesmente proibido. O capeta, depois de milhões de anos de reinado, pode enfim descansar em paz, sendo tão bem assessorado e deixou Tatcher governar em seu lugar. O inferno nunca fora tão infernal.
Acordei suado, assustado, gritando...
Achei que era só um sonho, mas lembrei que este é na realidade o insuportável mundo conservador e neo-liberal!

Um comentário:

  1. Pinochet e Thatcher estão lá abraçados, em seus arroubos de amor provecto. Mas acho que nem o dono da casa, Lord Satan, os aguentará!!! Muito boa a analogia com o mundo real atualíssimo.

    ResponderExcluir